Em tempos de crise econ\u00f4mica \u00e9 necess\u00e1rio redimensionar o papel de quem transforma o mundo por meio do trabalho. Deste modo, o Primeiro de Maio de 2009 chama os trabalhadores e trabalhadoras, de forma especial, ao papel de protagonistas da hist\u00f3ria. N\u00e3o compete a mais ningu\u00e9m, sen\u00e3o aos trabalhadores e trabalhadoras, substituir a l\u00f3gica da explora\u00e7\u00e3o, em vig\u00eancia h\u00e1 tantos s\u00e9culos, pela l\u00f3gica da constru\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
Mas como promover essa mudan\u00e7a se h\u00e1 uma corrosiva desesperan\u00e7a espalhando-se pelo mundo? A tarefa n\u00e3o \u00e9 simples. Que este Primeiro de Maio seja um divisor de \u00e1guas, um dia para se repensar as bases do tipo de sociedade que queremos. <\/p>\n
Faliu o discurso neoliberal do p\u00f3s-guerra fria, que prometia mundos e fundos aos pa\u00edses da periferia por meio do verbo privatizar. S\u00f3 que como toda empresa falida, esse modelo deixou d\u00edvidas, estragos, inseguran\u00e7a. Pudera, nesses anos todos at\u00e9 o conceito de cidadania foi privatizado. Embora ningu\u00e9m saiba realmente o que nos aguarda ap\u00f3s a atual crise, \u00e9 poss\u00edvel adiantar que o mundo ser\u00e1 reconstru\u00eddo pelo mundo do trabalho, em bases coletivas e p\u00fablicas, e n\u00e3o individuais e privadas. <\/p>\n
Isso \u00e9 poss\u00edvel? Sem d\u00favida, desde que os governos sejam obrigados a investir muito mais no interesse da classe trabalhadora, em melhores sal\u00e1rios, na reafirma\u00e7\u00e3o de direitos e em condi\u00e7\u00f5es dignas de trabalho. O caminho \u00e9 \u00e1rduo, pois o d\u00e9ficit \u00e9 enorme. Mais da metade da for\u00e7a de trabalho do planeta est\u00e1 na informalidade, de acordo com estudo da Organiza\u00e7\u00e3o para Coopera\u00e7\u00e3o e Desenvolvimento Econ\u00f4mico (OCDE). Isso significa que um contingente recorde de quase dois bilh\u00f5es de pessoas trabalha sem contrato e sem previd\u00eancia social. <\/p>\n
Como as crises econ\u00f4micas tendem a ampliar a fatia dos empregos informais, \u00e9 preciso que pol\u00edticas p\u00fablicas combatam os perigos do cen\u00e1rio atual e a tend\u00eancia da amplia\u00e7\u00e3o da pobreza no mundo. Mais de 700 milh\u00f5es de trabalhadores informais sobrevivem com menos de US$ 1,25 por dia, e cerca de 1,2 bilh\u00e3o ganham menos de US$ 2 ao dia. <\/p>\n
Contrariando os estudos que apontam o crescimento do n\u00famero de mulheres como chefes de fam\u00edlia, a amplia\u00e7\u00e3o da informalidade dever\u00e1 afetar principalmente as trabalhadoras, que s\u00e3o a maioria entre os empregados em coloca\u00e7\u00f5es de pior qualidade.<\/p>\n
Os jovens e o mais velhos tamb\u00e9m sofrer\u00e3o de forma mais acentuada os efeitos dessa precariza\u00e7\u00e3o do trabalho.<\/p>\n
\u00c9 preciso rapidez e arrojo para enfrentar este cen\u00e1rio. Neste Primeiro de Maio, \u00e9 necess\u00e1rio cobrar mais programas de qualifica\u00e7\u00e3o, maior linha de cr\u00e9dito, programas de transfer\u00eancia de renda e uma jornada mais justa para os trabalhadores, bem como o cumprimento dos direitos trabalhistas e constitucionais. <\/p>\n
Mas, como n\u00e3o d\u00e1 para solucionar a situa\u00e7\u00e3o em curto ou m\u00e9dio prazo, os governos devem ser pressionados para alocar investimentos maci\u00e7os no setor p\u00fablico. Ao investir no servidor p\u00fablico investe-se em servi\u00e7os de excel\u00eancia e em qualidade de vida para a sociedade em geral. <\/p>\n
Por exemplo, a aprova\u00e7\u00e3o de um Plano de Carreira digno para os servidores do Judici\u00e1rio vai gerar uma melhora significativa no acesso \u00e0 Justi\u00e7a, possibilitando que um universo imenso de trabalhadores possam exigir judicialmente o cumprimento de seus diretos. A mesma rela\u00e7\u00e3o de investimento-retorno se d\u00e1 entre professores e alunos ou entre m\u00e9dicos e pacientes. <\/p>\n
Uma das chaves da supera\u00e7\u00e3o da crise, bem como da invers\u00e3o da l\u00f3gica da explora\u00e7\u00e3o pela l\u00f3gica do trabalho, est\u00e1 na valoriza\u00e7\u00e3o dos servidores p\u00fablicos. Por isso \u00e9 necess\u00e1rio que toda a sociedade se mobilize em torno das reivindica\u00e7\u00f5es do setor p\u00fablico, que vem sofrendo ataques e arrochos de alguns governos. <\/p>\n
Ao se fortalecer os servidores p\u00fablicos, asseguram-se, entre outras coisas, sa\u00fade, justi\u00e7a, educa\u00e7\u00e3o e seguran\u00e7a para toda a classe trabalhadora. Com certeza, isso favorecer\u00e1 o protagonismo dos trabalhadores neste momento de ruptura do modelo neoliberal vigente. <\/p>\n
Com otimismo, felicito a todos os trabalhadores e trabalhadoras neste Primeiro de Maio, pela coragem, garra e compet\u00eancia com que v\u00eam sustentando e impulsionando o desenvolvimento deste Pa\u00eds. E fa\u00e7o uma conclama\u00e7\u00e3o geral para que nos unamos, o quanto antes, na luta para substituir a atual l\u00f3gica econ\u00f4mica por uma l\u00f3gica mais justa, democr\u00e1tica e solid\u00e1ria. <\/p>\n
Roberto Policarpo
\nCoordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judici\u00e1rio e do Minist\u00e9rio P\u00fablico da Uni\u00e3o no DF.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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